ATA DA VIGÉSIMA NONA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 10-8-2000.

 


Aos dez dias do mês de agosto do ano dois mil reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e trinta e seis minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Sérgio de Paula Ramos, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 222/99 (Processo nº 3901/99), de autoria da Vereadora Sônia Santos. Compuseram a MESA: o Vereador Paulo Brum, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor Cláudio Eizirik, Presidente da Federação Latino-Americana de Psicanálise; o Senhor Paulo Fonseca, Presidente da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre; a Senhora Neuza Knijnik Lucion, Presidenta da Sociedade de Psiquiatria do Rio Grande do Sul; o Senhor Hilberto Corrêa de Almeida, Presidente da Associação Médica do Rio Grande do Sul – AMRIGS; o Senhor Sérgio de Paula Ramos, Homenageado; a Vereadora Sônia Santos, na ocasião, Secretária "ad hoc". A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional Brasileiro e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. A Vereadora Sônia Santos, em nome das Bancadas do PTB, PDT, PMDB, PSB, PFL, PPS e PSDB, discorreu sobre aspectos atinentes à vida pessoal e profissional do Senhor Sérgio de Paula Ramos, comentando os motivos que levaram Sua Excelência a propor a presente homenagem e destacando a qualidade do trabalho desenvolvido por Sua Senhoria na área da psiquiatria. O Vereador Adeli Sell, em nome da Bancada do PT, cumprimentou o Senhor Sérgio de Paula Ramos pelo recebimento do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre, afirmando que a concessão dessa distinção a Sua Senhoria significa o reconhecimento da Cidade de Porto Alegre à dedicação sempre demonstrada pelo Homenageado em suas atividades médicas. O Vereador João Carlos Nedel, em nome da Bancada do PPB, destacou a relevância da atuação do Senhor Sérgio de Paula Ramos junto à sociedade porto-alegrense, salientando o trabalho médico desenvolvido pelo Homenageado, notadamente no que se refere ao exercício da psiquiatria direcionada ao combate à dependência química. A seguir, foram registradas as seguintes presenças, como extensão da Mesa: da Senhora Ana Luiza Bratkowski, esposa do Homenageado; dos Senhores Vítor e Fernanda de Paula Ramos, filhos do Homenageado; da Senhora Andréia Guimarães; da Senhora Iolanda de Paula Ramos, mãe do Homenageado; da Senhora Renata Trápani, tia do Homenageado; da Senhora Alvacy Bratkowski, sogra do Homenageado; do Senhor Manuel Antônio Albuquerque, representante da Academia Sul-Riograndense de Medicina; do Desembargador João Pedro Freire; de amigos, parentes e convidados do Homenageado. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou a Vereadora Sônia Santos e a Senhora Ana Luiza Bratkowski a procederem à entrega, ao Senhor Sérgio de Paula Ramos, do Diploma e da Medalha referentes ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre e, após, concedeu a palavra aos Senhores Vítor de Paula Ramos, Fernanda de Paula Ramos e Paulo Fonseca, que saudaram o Senhor Sérgio de Paula Ramos pela homenagem hoje recebida. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Sérgio de Paula Ramos, que agradeceu o Título recebido. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem o Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às vinte horas e quarenta e nove minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Paulo Brum e secretariados pela Vereadora Sônia Santos, como Secretária "ad hoc". Do que eu, Sônia Santos, Secretária "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Dr. Sérgio de Paula Ramos.

Convidamos, para compor a Mesa, o Dr. Cláudio Eizirik, Presidente da Federação Latino-Americana de Psicanálise; o Dr. Paulo Fonseca, Presidente da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre; a Dr.ª Neuza Knijnik Lucion, Presidenta da Sociedade de Psiquiatria do Rio Grande do Sul; o Dr. Hilberto Almeida, Presidente da AMRIGS.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

A Ver.ª Sônia Santos está com a palavra e falará pelas Bancadas do PTB, PDT, PMDB, PSB, PFL, PPS e PSDB.

 

A SRA. SÔNIA SANTOS: Primeiro Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre Ver. Paulo Brum; Dr. Sérgio de Paula Ramos, nosso homenageado; Dr. Cláudio Eizirik, Presidente da Federação Latino-Americana de Psicanálise; Dra. Neuza Knijnik Lucion, Presidenta da Sociedade de Psiquiatria do Rio Grande do Sul; Dr. Hilberto Almeida, Presidente da AMRIGS; parentes do nosso homenageado; Senhoras e Senhores que nos honram com a sua presença nesta noite.

Quando nós, Vereadores desta Casa, subimos a esta tribuna para prestar uma homenagem, para falar de um novo Cidadão de Porto Alegre, estamos diante de um desafio. Desafio de falar de pessoas que muito fizeram e, com certeza, muito ainda farão por nossa Cidade. Mas quando vimos a esta tribuna na condição de proponente da homenagem, temos a responsabilidade de não apenas falar no homenageado, mas dizer o motivo pelo qual o escolhemos para esta homenagem, e é isso que passo a fazer a partir de agora.

O currículo do Dr. Sérgio de Paulo Ramos, os seus feitos, a sua dedicação à Medicina, aos pacientes, aos familiares dos pacientes, a sua própria família, a sua paixão pela fotografia e pelos cães, é por todos conhecida. A esses pontos soma-se uma característica peculiar: o Dr. Sérgio é um médico de alma, um médico de alma, sim, com toda a ambigüidade que essa frase possa ter. Ele empresta a sua profissão, não apenas o seu intelecto, os seus conhecimentos, seus ouvidos, mas empresta a sua alma. Assim como ele trata os seus pacientes não apenas no lado físico, no lado psíquico, ele trata também das suas almas. É por isso que quando surgiu a oportunidade de poder-lhe permitir concretizar esse sonho de poder ser chamado de cidadão de Porto Alegre, a Cidade que ele escolheu viver, a Cidade que mora no seu coração, não hesitei, aceitei de pronto e busquei saber um pouco mais, conhecer um pouco mais, além daquilo que todas as pessoas sabem e conhecem, para que nesta noite pudéssemos prestar uma homenagem ao Dr. Sérgio de Paula Ramos.

Para os seus familiares e amigos, pensar em Sérgio de Paula Ramos, vê-lo como um ser humano, falar sobre ele como um ser humano é uma tarefa fácil e, ao mesmo tempo, difícil. Fácil, porque são infinitos os adjetivos que podem traduzi-lo; difícil, porque, certamente, faltam palavras que possam expressar a pessoa especial que ele é. Um homem para quem não há obstáculos que não possam ser superados, barreiras que não possam ser derrubadas, uma pessoa que sempre tem uma palavra para quem está com alguma angústia, está em necessidade, que precisa ouvir aquilo que necessita ouvir naquele momento. Ao olhar o Dr. Sérgio com os olhos de um paciente, dei-me conta que são milhares de corações agradecidos: de pais, mães, esposos e esposas, filhos, filhas, irmãs. São passados, presentes e futuros mudados pela interferência desse idealista. Um idealista, sim, porque ele acredita no etéreo, acredita no ser humano, acredita no homem, acredita na força que todos nós temos dentro de nós para sairmos do fundo do poço, para fugirmos do inferno, para escolher a vida. É isso que ele faz: ajuda as pessoas a optar por viver, e viver livres. Pessoas que eram humilhadas, degradadas, que tinham perdido a esperança, mas que, através da certeza, da confiança que ele passa em conquistar a vitória, conseguem vencer.

E é por essas razões e por muitas mais que não consegui alcançar, que hoje estamos aqui para homenagear o médico, o filho, o pai, o esposo, o amigo, o companheiro Sérgio de Paula Ramos. Esse homem que consegue tempo, que multiplica o seu tempo para poder estar perto daqueles que ama e daqueles que dele precisam. Um lutador, um Dom Quixote que luta contra os moinhos do vício, mas, sobretudo, um pescador de homens, uma pessoa que passa a vida lançando as suas redes para tirar das profundezas vidas quase perdidas. Quantas vidas, nós não sabemos. Talvez nunca saibamos. Mas isso não importa, o que importa é que ele escolheu ser assim, o que importa é que ele está aqui, o que importa é que ele escolheu Porto Alegre. Por tudo isso, nós queremos lhe dizer, muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): O Ver. Adeli Sell está com a palavra, em nome do PT.

 

O SR. ADELI SELL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Tenho o prazer, meu caro Dr. Sérgio de Paula Ramos, de falar em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, para trazer a nossa saudação, o nosso abraço, o nosso carinho e reconhecimento pela merecida homenagem proposta pela Ver.ª Sônia Santos. Nós temos um certo grau de arrogância nas nossas vidas por nos acharmos valentes, bravos, destemidos, uma espécie de donos do mundo, mas quando somos acometidos por problemas de doença, ou quando alguém das nossas relações não está bem, seja no seu físico, ou na sua alma, nós começamos a perceber, indelevelmente, o quanto somos frágeis, o quanto precisamos dos outros e, principalmente, de alguns outros muito especiais, que são os verdadeiros bravos da nossa sociedade: aqueles que cuidam da nossa saúde. Mais bravo do que um médico que cuida da nossa saúde de um modo geral é aquele médico que cuida dos problemas da nossa mente, do nosso interior, de algumas coisas que a gente não compreende muito bem por que acontecem conosco ou com as pessoas em torno de nós, e três vezes bravo parece-me ser a pessoa que, além disso, cuida de pessoas que, por várias razões da vida, caíram no vício, na droga, enfim, pessoas acometidas de uma grande fraqueza que mostra que não somos bravos, que somos frágeis e que precisamos dos amigos, dos parentes e das pessoas com quem nós convivemos na sociedade, para que possamos nos amparar. Agora, para viver muito, viver com tranqüilidade e dignidade, nós precisamos desses heróis, desses bravos, que são as pessoas que cuidam da nossa saúde.

Hoje, nós estamos diante de um deles, de um bravo lutador, de uma pessoa que não mede esforços, em qualquer momento, em qualquer lugar, para amparar os seus semelhantes: os cidadãos desta Cidade.

Por isso, em retribuição, os mesmos irmãos seus, os cidadãos desta Cidade, dão-lhe um título especial, o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre, porque com a sua dedicação, a sua vida e o seu trabalho, o senhor honra esta Cidade e todos nós. É por isso que nós, ao abraçá-lo, conjuntamente, com a Vereadora que propõe o título, nós, Vereadores, lhe damos o título, junto com o povo de Porto Alegre, que precisa desses bravos lutadores, mulheres e homens que cuidam da nossa saúde. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): O Ver. João Carlos Nedel está com a palavra e falará pela Bancada do PPB.

 

O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Em nome da Bancada do Partido Progressista Brasileiro, ao qual tenho a honra de pertencer, juntamente com os ilustres Vereadores João Dib e Pedro Américo Leal, gostaria de manifestar, também, a nossa homenagem, subsidiar a homenagem que a Ver.ª Sônia Santos presta, em nome da Cidade de Porto Alegre, a tão ilustre personalidade.

Inicialmente, gostaria de salientar a grande oportunidade e idéia que teve a Ver.ª Sônia Santos em propor esta homenagem, aprovada pela unanimidade dos Srs. Vereadores, que representam a totalidade dos eleitores de Porto Alegre. Esta Câmara recebe todos os votos dos eleitores de Porto Alegre, então, representa a unanimidade dos porto-alegrenses.

Foi, realmente, Ver.ª Sônia Santos, uma proposta muito importante. Porto Alegre muito se orgulha da sua atuação nesta Câmara; combativa, nos dá mostras de um esforço muito grande em prol da nossa Cidade. Parabéns, Ver.ª Sônia Santos, pela oportunidade e pela importância desta homenagem que, hoje, Dr. Sérgio, Porto Alegre lhe presta.

Eu, há pouco, perguntava ao Dr. Sérgio se ele era a mesma pessoa - sabem como é, a barba, às vezes não tem barba, os óculos mudam um pouco - porque eu ouvi uma palestra, há uns quatro ou cinco anos - eu não era Vereador ainda - lá no Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças, e ele respondeu: “Sim, era eu mesmo”. Eu queria lhe dizer, Dr. Sérgio, que anotei aquela sua palestra, dada aos Executivos Financeiros, sobre a sua atuação com dependentes de drogas. A sua palestra foi muito importante, pois o senhor dava dicas, observações práticas de como os pais, de como a sociedade tem de conviver, prevenir e amar esses dependentes químicos.

Trabalho muito em encontro de casais, no Encontro de Casais com Cristo, no Movimento dos Cursilhos de Cristandade, no Encontro de Casais Teorema e, Dr. Sérgio, multipliquei as suas informações. Em cada palestra sobre, por exemplo, família hoje, lá colocava um bom texto daquelas dicas que o senhor nos dava lá no Morro Santa Tereza, na sua palestra.

Quando falo aos pais na palestra Diálogo com os Filhos, transmitia todas as suas observações, os seus cuidados: “cuidado quando o seu filho dormir demais; quando o seu filho isso ou aquilo, tenham cuidado”. Eu os fazia anotar, porque ninguém está livre de ter essa dificuldade em sua família. O senhor semeou e eu tentei multiplicar essa sua semeadura, e tenho certeza, Dr. Sérgio, de que frutos já estão dando, porque essa palestra faz quatro ou cinco anos, e há quatro ou cinco anos eu a tenho multiplicado. Vejam o que pode fazer por uma sociedade alguém que semeia o bem, e isso o Dr. Sérgio faz.

Há pouco, falava com a Irmã Jacira, do Hospital Mãe de Deus, ela me falava da importância do seu trabalho médico junto aos pacientes daquele Hospital - que beleza! - o senhor, realmente, está ajudando a melhorar o mundo. E eu me recordo, Dr. Sérgio, há uns oito, nove anos houve um congresso na PUC sobre drogas e a síntese desse congresso dizia que os jovens procuram a droga quando eles pouco vislumbram perspectivas de futuro. Eu creio que o senhor também pode confirmar a decisão desse congresso. Os jovens, quando não vêem perspectiva de vida, apelam para as drogas, e aí, Dr. Sérgio, está também a culpa e a omissão de muitos políticos, que são os responsáveis por dar perspectiva de vida à nossa juventude.

E é por isso, Dr. Sérgio, que pessoas como a Ver.ª Sônia Santos, o Ver. Adeli Sell, como eu também, e como outros muitos, como o Ver. Paulo Brum, dedicam-se à política, para que os nossos jovens tenham perspectiva de futuro, para que não sejam mais ludibriados por maus governantes e por maus políticos. Não é fácil ser político, Dr. Sérgio, como sei que não é fácil ser médico, mas os políticos responsáveis, conscientes da sua missão, da sua responsabilidade perante o futuro, precisam ser apoiados. Não desacreditem da política, desenvolvam ao máximo a sua consciência política, conheçam os candidatos, não votem sem conhecê-los, sejam bem rígidos na sua escolha com todos os políticos, e aí o nosso País vai melhorar, com melhores políticos.

Também faço um apelo a tantos amigos que o senhor tem aqui, para que, se puderem, se disponham a vir para o mundo da política, porque só vamos melhorar a política com mais pessoas boas como os senhores e como as senhoras. Ajudem-nos a melhorar este mundo, como o Dr. Sérgio está fazendo na sua área. Então, aí, Dr. Sérgio, teremos perspectivas melhores, e o seu trabalho será um pouco mais aliviado, porque precisamos apresentar um horizonte a todos os nossos jovens, a todo o nosso País.

Parabéns, Dr. Sérgio, tenha a certeza de que Porto Alegre tem orgulho de recebê-lo como Cidadão Honorário desta Cidade, porque esse paulista, um dia, a adotou, mas, agora, esta Cidade o adota e lhe agradece por tantos bens que o senhor tem proporcionado aos seus munícipes. Parabéns, e que Deus continue o abençoando. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Nós queremos registrar, como extensão de Mesa a esposa do nosso homenageado, Sr.ª Ana Luiza Bratkowski; a filha, Sr.ª Fernanda de Paula Ramos; o filho, Sr. Vítor de Paula Ramos; a Sr.ª Andréia Guimarães; a mãe, Sr.ª Iolanda de Paula Ramos; a tia, Sr.ª Renata Trápani; a sogra, Sr.ª Alvacy Bratkowski; o representante da Academia Sul-Riograndense de Medicina, Dr. Manuel Antônio Albuquerque; o Desembargador João Pedro Freire; colegas, amigos e demais convidados, aqui, presentes.

Vamos ao instante mais esperado da nossa Sessão e, para tanto, queremos convidar a esposa do nosso homenageado, a Sr.ª Ana Luiza, e, também, a nossa Ver.ª Sônia Santos para que façam a entrega do Diploma e da Medalha referentes ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Dr. Sérgio de Paula Ramos.

 

(Procede-se à entrega do Diploma e da Medalha ao homenageado.)

 

Nós ouviremos uma manifestação dos filhos do homenageado, o Vítor e a Fernanda, que querem dizer algumas palavras ao seu pai.

 

O SR. VÍTOR DE PAULA RAMOS: Boa-noite a todos e obrigado pelas suas presenças. Para começar, eu gostaria de dizer que vocês são fundamentais nesse momento, pois são mais uns - eu digo mais uns, porque o número de pessoas que veneram o dito cujo Dr. Sérgio de Paula Ramos, como diria o próprio, é grande. Gostaria de dizer também, na frente de todos, que eu estou muito orgulhoso dessa figura tão importante na minha vida, meu pai e amigo. Este momento está sendo tão especial para ele quanto para nós, seus filhos. Nos meus treze anos de convivência e amor, o vi ser homenageado em jornais, revistas, rádios e tevês por ajudar a todos a ser cada vez melhores. Sinto uma enorme felicidade de hoje estar aqui nesta tão solene Sessão para reconhecer o trabalho desta pessoa que, em vinte e seis anos de Porto Alegre, muito fez por outros que não teriam podido se separar de vícios e/ou problemas pessoais sem a ajuda dele.

Creio que, quando a Mesa Diretora da Câmara Municipal de Porto Alegre, juntamente com a Ex.ma Sr.ª Ver.ª Sônia Santos escolheram-no para ganhar este título, não escolheram só um homem, mas, sim, todas as pessoas que, como eu, o amam e admiram seu trabalho.

Para terminar este pequeno, mas muito sincero, discurso, gostaria de dizer só mais algumas palavras: Pai, eu te amo por tudo que és para mim e para nós todos!

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. FERNANDA DE PAULA RAMOS: Primeiramente, boa-noite a todos! É com muito orgulho e felicidade que estou aqui, nesta noite, para prestar uma singela homenagem, de apenas alguns minutos, para alguém que, há vários anos, vem realizando, aqui em Porto Alegre, um trabalho maravilhoso na área de Psiquiatria, especialmente direcionado à dependência química.

Tenho certeza de que, nessa cerimônia, será concedido um prêmio muito merecido por essa pessoa especial que há tanto tempo vem demonstrando ter muita dedicação, competência e doação pessoal para com a atividade que exerce enquanto médico psiquiatra.

Talvez eu seja relativamente suspeita ao falar do meu pai, uma vez que o admiro tanto como pessoa quanto como profissional, no entanto, estão presentes aqui amigos, colegas, familiares e pacientes que podem comprovar tudo que disse até então. Acho que o mais bonito do trabalho que meu pai desempenha é a esperança e a convicção que ele passa às pessoas de que é possível se vencer esta luta contra as drogas.

Enfim, nesta noite tão especial, só tenho motivos para parabenizar o nosso Dr. Sérgio de Paula Ramos pela bela tarefa que cumpre, e desejar as boas-vindas para o mais recente Cidadão de Porto Alegre.

Para você, pai, um beijo muito carinhoso da sua fã número um.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Passamos a palavra ao Dr. Paulo Fonseca, Presidente da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, para fazer uma saudação especial ao nosso querido Dr. Sérgio de Paula Ramos.

 

O SR. PAULO FONSECA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Quando há três ou quatro semanas recebi um recado na secretária eletrônica no meu consultório, de parte do Sérgio, convidando-me e dizendo para mim que, oportunamente, seria encaminhado um convite em termos oficiais, mas que ele já estava antecipando e convidando o amigo e o Presidente da Sociedade a que pertenço. Eu, de imediato, aceitei o convite exatamente nesta ordem: primordialmente como amigo e secundariamente como Presidente, na medida em que essa função é algo muito passageira.

Falar de um homenageado numa ocasião como essa tende à repetição dos elogios, dos valores apontados, etc. Eu queria fazer apenas dois assinalamentos, um é que a homenagem ao Sérgio entendo como de certa forma, em alguma medida, uma homenagem à classe médica, aos médicos psiquiatras e psicanalistas, na medida em que o Sérgio, que é tão reconhecido nacionalmente como um especialista capacitado num enfrentamento de um problema tão severo como a dependência às drogas, fez toda uma formação na nossa sociedade, uma formação psicanalítica, que é uma formação difícil, árdua, e a Psicanálise não serve apenas como mais um elemento do seu arsenal terapêutico, mas penso que é uma formação que filtra todas as demais abordagens terapêuticas. Nesse sentido, estamos todos homenageados, juntamente com o colega.

E o outro ponto que eu queria assinalar, que merece um assinalamento, é de dirigir-me aos Srs. Vereadores da Câmara Municipal da nossa Cidade para agradecer essa homenagem e dizer mais do que isso, que dentro de uma tarefa difícil como é legislar, enfrentar problemas, debater dificuldades numa Cidade como a nossa, num País como o nosso, em certos momentos chama a atenção, e muito nos agrada, que ocorra a sensibilidade para homenagear pessoas, como hoje estamos homenageando o Sérgio, homenageando-as com um título, mais do que honorífico, um título de Cidadão de nossa Cidade, que é o reconhecimento do valor, da condição de gaúcho e de cidadão de Porto Alegre.

A Câmara Municipal de Porto Alegre está de parabéns por ter tido essa sensibilidade ao homenagear o colega, assim como está homenageado o colega por ter o mérito de merecer essa honraria. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): O Dr. Sérgio de Paula Ramos está com a palavra.

 

O SR. SÉRGIO DE PAULA RAMOS: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Eu tinha seis anos de idade, quando a nossa família se reuniu para levar a tia Renata para Santos, no Estado de São Paulo. Ela ia embarcar no Júlio César para uma temporada turística na Itália, na época era o maior transatlântico que aportava no Brasil. Fiquei fascinado em visitá-lo. Representava um mundo de aventuras que não conseguia entender direito, mesmo assim desejei eu também um dia poder estar naquela situação. Ainda que até agora não tenha tido a oportunidade de viajar em um transatlântico, reforçava-se naquela cena o meu apego pelo desconhecido, pelo novo, tanto do mundo externo, quanto - descobri mais tarde -, pelo mundo interno. Desse modo, quando com doze anos meus avós paternos me convidaram para viajar de carro ao sul do País, fiquei excitadíssimo. Foi a primeira vez que viajei sem meus pais, minhas duas irmãs, Marisa e Flávia, ambas mais novas que eu, e a primeira vez que saí do Estado de São Paulo. Lembro-me perfeitamente que entramos no Rio Grande do Sul, através de uma tal de Porteira do Rio Grande, uma cidade com um nome engraçado para criança de então: Vacaria. Nessa noite dormimos em Caxias do Sul, no Hotel Samuara, para dois dias depois chegarmos em Porto Alegre, onde nos hospedamos no Umbu Hotel. O que me chamou a atenção em Porto Alegre foi o carinho com o que meu avós foram recebidos por seus amigos, percepção que anos mais tarde foi importante na decisão de para cá me mudar. Na memória infantil, a viagem pelo Rio Grande do Sul terminou com um churrasco em Capão da Canoa. Estranho para os nosso hábitos paulista: o assador, às 10h, já estava às voltas com a carne para um churrasco que serviria às 13h. Que sujeito molóide, pensei eu. Em São Paulo fazemos um churrasco em meia hora. Tratava-se apenas de passar na grelha bifes pré-temperados, de véspera, colocando-os depois no meio do pão. É isso que o paulista chama de churrasco, ou chamava, pois agora já não é assim, tanto são os gaúchos que por lá se enraizaram, levando consigo a sua arte pampeira. Anos se passaram até que pude aperfeiçoar o gosto pela comida, herdado de minha mãe, avó materna e avô paterno, e descobri o óbvio, que a pressa é a inimiga da perfeição, principalmente na cozinha.

A minha adolescência e início da vida adulta foram vividos, de 1963 a 1973, época do Paz e Amor, num país, naquele momento, distante da paz e muito mais distante ainda do amor entre os seus cidadãos. No que se convencionou chamar de anos de chumbo da repressão, estava na Faculdade de Medicina, inconforme com os rumos que o País tomava, identificado com as lutas estudantis. Somente uma análise que começara com 17 anos, com o Dr. Aluízio Serpa Corsi, que me salvou de ter o mesmo fim de dois de meus colegas de faculdade, que foram trucidados no DOI-CODI. Além da análise, reconheço que o carinho e a firmeza de meus pais, Iolanda e Plínio, foram decisivos nesse sentido. Também foram decisivos quando, no terceiro ano da faculdade, encantado com fotografia, estive por interromper os estudos médicos - iria ser fotógrafo! Claro, o rapaz tímido que sempre fui, agora, atrás de uma câmera fotográfica, passou a ter um fascinante sucesso com as gurias. Não queria mais saber daquelas pessoas feias e sujas da Santa Casa de São Paulo, queria, isso, sim, passar a fotografar as belezas que passaram a freqüentar o meu estúdio. Meus pais sempre permitiram que vivesse minhas dúvidas, mas nas questões relevantes marcavam sua presença, e a isso sou grato até hoje, e vejo esse tipo de atitude algo a ser considerado agora que sou eu o pai. No episódio da fotografia, hobby importante para mim até hoje, não foi diferente, e na hora “h” apareceu a figura da minha mãe a me ajudar a colocar as coisas nos devidos lugares. O fato é que administradas as crises, cheguei ao final do curso decidido a fazer Psiquiatria, e não via nas alternativas paulistas um lugar com o qual pudesse me identificar. Na ocasião, resumia-se a uma Psiquiatria para eletricista - como se brincava -, pois o grande e praticamente único tratamento preconizado para psicóticos era o eletrochoque. Por esse motivo comecei a trocar correspondências com o pessoal do Maudsley Hospital, em Londres, percebendo que eram boas as minha chances de ser aceito lá. Naquele período, no entanto, trabalhava como acadêmico numa comunidade terapêutica, o IPC, cujos proprietários, Isaías Kirchbaun, Ricardo Toledo Pisa e Juarez Strachman haviam sido alunos da PINEL, aqui de Porto Alegre, o primeiro como atendente, os demais como residentes. E foram eles que me incentivaram a conhecer a Clínica PINEL. E para tanto me vali de meus estágios optativos de sexto ano e aqui cheguei em pleno inverno de 1973. Sair de São Paulo para Londres seria difícil, outro país, outra língua, outra cultura, mas de todo modo seria uma espécie de upgrade para um paulista. Já vir a Porto Alegre seria pouco compreendido pelo despropositado orgulho dos meus conterrâneos. No entanto, cedo percebi que esse dilema escondia outra questão mais profunda, tanto uma opção quanto outra, representaria sair de casa, me afastar fisicamente de meus pais e irmãs e ir em direção da minha própria vida.

Foram momentos de angústias habituais nas separações importantes, e o inverno de 73 foi rigoroso. Meu pai havia conseguido, com um empresário, amigo dele, que me cedesse um apartamento que comprara para o seu filho. O dito empresário foi me esperar no aeroporto e a caminho do apartamento me esclareceu que comprara o mesmo para servir de garçonniére para seu filho, numa época em que os motéis não eram muito difundidos. O frio era intenso, o dia escuro, e quando eu entrei no apartamento da José do Patrocínio, acendi as luzes, essas variavam entre azuis e vermelhas, todas. Desse modo a primeira conta que fiz em Porto Alegre foram lâmpadas.

A Pinel me encantou desde o primeiro momento, pareceu-me praticar, às vezes até a máxima conseqüência, não só a psiquiatria que procurava, inspirada na psicanálise, como funcionando como uma comunidade terapêutica. Praticava a democracia que o País não tinha naquele momento. Terminado esse estágio, que era optativo, inscrevi-me para outro, esse probatório, em novembro. Só que dessa vez não foi mais necessário voltar para a gélida garçonniére, perdendo eu a derradeira possibilidade de esclarecer se ela era mesmo do filho ou do próprio pai. Um colega de turma havia-me apresentado à família de sua namorada, que se dispôs a me hospedar nos quarenta e cinco dias de estágio. Assim sendo, voltei à Porto Alegre diretamente para a casa dos Lejderman, acolhido pelo seu Maurício, com seu eterno bom humor, Dona Malvina, supermãezona e seus filhos, meus irmãos naqueles dias: Léo, Bia, Jane e Fernando. Repetiu-se a hospitalidade da cena da infância, e devo mencionar que decidi me mudar para cá pela identificação com o trabalho da PINEL e pelo carinho com que fui acolhido pelos Lejderman, para os quais reitero meus renovados agradecimentos.

Foi com o Léo que fui apresentado ao “Fedor”, ao “Zé do Passaporte”, ao Líder e aos primeiros amigos gaúchos. Soube de minha aprovação no início de dezembro do ano de 1973, para iniciar a residência em março. Casei em janeiro, viajamos de carro em lua-de-mel até Fortaleza e, em fevereiro do ano de 1974, chegamos para uma permanência de dois anos em Porto Alegre.

Recém-casado, recém-formado e recém-chegado, fomos morar em um apartamento na Rua Santo Antônio, perto da Av. Independência. O apartamento era simpático, embora muito úmido. Lá nós moramos quase três anos, época em que convivemos com Paulo Seixas, Fulgêncio, Lúcia Blaya, Evaldo e Angelice Melo de Oliveira, Denílson e Fernanda Cavalcanti, Rui Arsego, Liane e José Blaya e Carlos Eduardo Carrion Vidal de Oliveira, todos jovens psiquiatras.

Na ocasião, residentes do Brasil inteiro vinham fazer a sua formação na PINEL, trazendo consigo os seus hábitos e costumes. Era freqüente que nos reuníssemos, socialmente, nos finais de semana.

Certa vez, eu me dispus a preparar um fondue, prato desconhecido por aquele grupo, naquela época. O Fulgêncio e a Lúcia, que já moravam em uma casa melhor e maior que as nossas, gentilmente, abriram a sua casa para sediar o meu fondue. Eu comprei os ingredientes na véspera e os levei para a casa deles. No dia, um sábado, amanheceu um extraordinário e típico dia de inverno gaúcho, com uma temperatura de 26º C à sobra! Eu fiquei preocupado, pois a cena que tínhamos planejado era a de um fondue servido à beira da lareira. Telefonei para a Lúcia, pedindo que ela ligasse o ar-condicionado no mais frio possível, assim a tecnologia salvou o clima para o fondue.

São lembranças indeléveis na memória de um jovem que já se sentia acolhido entre amigos. Amigos esses que perduram até hoje.

Na síndrome do migrante, em meus primeiros tempos por aqui, tentava ainda reconhecer em Porto Alegre os meus cantinhos prediletos de São Paulo. Desse modo, o Cine Vogue era o Belas Artes; o Alasca, o memorável Rivera, bar predileto da minha geração, onde tanto tiramos um Presidente e colocamos o outro e, lamentavelmente, ninguém nos ouvia.

A tia Dulce servia a mesma sopa de cebola do CEASA, point paulistano da madrugada. A Churrascaria Santo Antônio tinha o mesmo filé a alho e óleo do Moraes, etc.

O dinheiro era o do salário de residente, mas assim mesmo dava para passar um fim-de-semana por mês em Gramado, existindo até hoje um modesto Hotel no qual ficávamos, o Hotel do Luís.

Os dois anos de Residência foram difíceis, estressantes, porém, eu acho que aprendi muito. No final da minha residência, Marcelo Blaya me convidou para organizar, na PINEL, um serviço de alcoolismo. Estava com 26 anos de idade e assumiria a chefia de uma das quatro unidades da clínica mais famosa do País, na época. Declinei dos convites que já recebera em São Paulo e, após um breve estágio nos Estados Unidos e Canadá, onde me especializei em dependência química, aprofundei minhas raízes com o Rio Grande, deixando São Paulo para trás.

Em 1976, com Serviço de Dependência Química da PINEL inaugurado, passei a trabalhar com o Arnaldo Woitowitz, Regina Kirchen, Ângelo Campana, Maria Angélica Gambarini, Yara Galbinsky e Sylvio Sperb.

Em 1977, iniciava a minha segunda análise pessoal, esta com o Dr. Sérgio Paulo Annes, com quem fiquei por dezoito anos e a quem sou extremamente grato.

Em 1978, nos mudamos para a Av. Ijuí, Bairro Petrópolis, em nosso primeiro imóvel próprio. Lá, tivemos a oportunidade de conhecer novos amigos em Porto Alegre.

Em 1979, comecei a minha formação psicanalítica com os colegas de turma, Luís Antônio Ortiz Martins, Maria Geraldina Viçosa e Paulo Soares.

Durante a formação, tive meus contatos iniciais com colegas que não trabalhavam na Clínica. Entre os professores com os quais passei a ter contato, dois me chamaram mais atenção: Isaac Pechansky, pela sua grande afetividade e continência, e Fernando Guedes, pela independência de pensamento. Aliás, sobre o Fernando, uma pequena inconfidência. Quando me arrumava para me mudar para Porto Alegre, amigos de facção política me disseram que, se me apertasse aqui, procurasse um colega, também psiquiatra, identificado com “o Partido”. Seu nome: Fernando Guedes. Anos mais tarde, quando tive liberdade para tal, contei essa história para o Fernando, que deu boas risadas com ela.

Os anos 80 foram muito instigantes para mim. Em primeiro lugar, logo em 80, nasce a Fernanda, minha querida filha, hoje acadêmica de medicina, e primeira gaúcha da família. Também em 80, recebia meu primeiro paciente para análise sob a supervisão de Cyro Martins. Escolhi Cyro Martins. Escolhi Cyro, pois poucas vezes conheci um homem tão afetuoso e o meu primeiro caso necessitava, sobretudo, de acolhimento. Nisso, Cyro era insuperável. Anos mais tarde, por mérito certamente superiores aos meus, Cyro recebeu o título que hoje recebo, Cidadão Honorifico de Porto Alegre, em uma concorrida cerimônia, onde, pelo amor que passei a ter por esta Cidade, sonhei que um dia também poderia ser agraciado com tamanha honraria.

Uma ocorrência interessante dessa época merece citação: para um paciente de análise, mostrava as manobras que ele fazia para tentar me manter longe dele. Sua resposta: “Olha quem fala, aquele que vive me chamando de você”. As últimas resistências foram ali vencidas e o “paulistês” foi sendo substituído por algo que lembra o “gauchês”. Digo algo, porque ainda não me acostumei com o “tu” e o verbo na terceira pessoa e, ao conjugar corretamente o verbo, às vezes, passo por esnobe. Isso, sem falar em São Paulo, onde seu tratado como gaúcho há muito tempo.

Como vêem não é fácil a vida de migrante. Porto Alegre foi suficientemente carinhosa comigo, provendo-me condições para fazer parte de um movimento associativo dos profissionais que trabalham com dependência química que aqui se iniciou. Desse modo surgiram a CRINEAA, a ABEAA e a atual ABED. Em todas, quiseram os colegas que eu contribuísse, nos mais diferentes cargos, e assim, os anos 80 foram de muitas viagens, congressos, cursos e reuniões. Nem sempre foi fácil conciliar tais tarefas com a formação psicanalítica e esse foi um dos motivos da mesma ter sido um tanto quanto esticada.

Em 1982, foi possível comprar uma casa na Rua Veridiano Farias, onde meus filhos moram com a mãe até hoje. Depois de nove anos em apartamentos, finalmente ia voltar a morar em uma casa.

Nesse mesmo ano, senti que meu ciclo na PINEL havia terminado. Pedi minha demissão, desejoso de levar o “Serviço de Dependência Química” para um hospital geral. Isso só foi possível em 1984, no Hospital Mãe de Deus, para onde toda a equipe se mudou – Arnaldo, Ângelo, Bertolote, Maria Angélica e Sérgio Barros – agora acrescida do Ernani Luz e Bruno Galperin. Logo depois, no entanto, Bertolote aceitou um convite para assumir importante cargo na OMS, em Genebra, e lá está até hoje.

O pioneirismo de um serviço de dependência química em um hospital geral logo foi reconhecido no País e, por isso, fui, em 1984, convocado pelo então Ministro da Justiça, Dr. Paulo Brossard, a fazer parte, em Brasília, do CONFE, onde estive até 1988.

Nesses dezesseis anos de trabalho no Mãe de Deus, tenho de agradecer inicialmente às Irmãs. Foi a Irmã Jacomina, já falecida, quem primeiro acreditou na nossa proposta, depois as Irmãs Jacyra, Sônia, Inês, entre outras. Na administração do hospital, a mão segura do Cláudio Seferim também tornou mais fáceis as soluções para as nossas naturais dificuldades de convivência, e mais recentemente, o Alberto Kramer, nosso Diretor Médico, tem sido um potencializador de nossas capacidades. Essas pessoas facilitaram a ocorrência de um fato um tanto quanto inédito no Brasil: dezesseis anos depois, Ângelo, Arnaldo, Bruno e Ernani seguimos trabalhando juntos, enriquecidos pela entrada de Irani Argimon, Lorena Cunha, Antônio Carlos Gruber e a Ângela Comerlatto, e mais de quarenta jovens psiquiatras que nesses anos tivemos o prazer de receber para a especialização em nossa área.

Em 1987 nascia o meu querido filho Vítor, hoje com treze anos, estudante do Anchieta e violinista. A família, com quatro membros, estava completa. O obstetra foi o Sérgio Luz e o pediatra, na sala de parto, devido a uma viagem do Ênio, o Ronald Pagnocelli de Souza. Para ambos: “10”, aos quais devo também meus agradecimentos. Posteriormente o “Tio” Ênio assumiu o seu posto, no qual segue até hoje.

Nesse mesmo ano eu consegui publicar Alcoolismo Hoje, primeiro livro que tive o prazer de coordenar a edição, e logo em seguida recebi um convite do Hospital Sírio Libanês, de São Paulo, para abrir nosso serviço lá. Foi a última vez que São Paulo me balançou, devo-lhes dizer, mas conversando com meus amigos paulistas o que mais ouço é o desejo de sair de lá. Carecia de sentido, portanto, eu, que havia conseguido sair, querer voltar. Não aceitei também esse convite, certo de que aqui seria mais feliz.

Em 1988 adquirimos um sítio nos arredores de Viamão para passar os fins de semana. Ali poderia começar a desenvolver o hábito de plantar árvores e criar meus cachorros, da raça dogue alemão, como sabem meus amigos.

Em 1989, como Presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas, fui convidado por D. Ione Sirotsky a organizar um grupo de trabalho para escrever um plano nacional de prevenção ao consumo de drogas. A generosidade de Antônio Nery Filho e Naomar Almeida, da Bahia; Arthur Guerra de Andrade, Beatriz Carlini Contrim e Vicente Antônio Araújo, de São Paulo; Richard Bucher, de Brasília; e Ângelo Campana e Ernani Luz, de Porto Alegre permitiu que cedesse, durante um ano, um fim de semana inteiro por mês, quando nos trancávamos num hotel em São Paulo para escrever o plano que ficou conhecido como “Valorização da Vida”. Para contribuir com a elaboração desse plano me vali da experiência que acumulara no Colégio Anchieta, onde colaboro desde aquela época, algumas vezes ensinando, na maioria aprendendo.

Foi no ano de 91 que, após vinte e quatro anos, entre namoro e casamento, este terminou. Resolvi, para melhor elaborar esse difícil momento, retirar-me para o sítio e lá passar uns três meses, até a poeira baixar. Passados nove anos, sigo morando lá até hoje, completando a história de minhas andanças de São Paulo para Porto Alegre e de Porto Alegre para Viamão.

Numa prova de que por aqui as coisas são mesmo diferentes, o Projeto Valorização da Vida, que era para ter sido nacional, só conseguiu ser implementado em Porto Alegre, de 92 a 94, durante o Governo Collares, e graças ao empenho pessoal de D. Ione, a quem agradeço neste momento. Foi ela que nos deu a oportunidade de implementar o Programa de Prevenção ao Consumo de Drogas em Escolas, que até hoje, que se saiba, foi o único a ter sua eficácia comprovada cientificamente no Brasil. Na implementação do Projeto, o destaque deve ser dado a Ilse Reichert e a Elisabeth Mendes Ribeiro, sem as quais nenhum mínimo passo teria sido possível.

Em 94, voltando a enfatizar minha carreira psicanalítica, encontrei, na pessoa da minha amiga Marlene Araújo, a grande incentivadora do meu trabalho. Devo mesmo reconhecer que sem seu estímulo as coisas poderiam ter tido um desfecho distinto. Com sua ajuda e acurada técnica, terminei minha segunda supervisão em 96, recebendo, finalmente, meses mais tarde, o título de Membro Associado da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre. Em janeiro de 99, apresentei o trabalho A Questão da Droga e a Psicanálise e com ele recebi o título de Membro Efetivo de nossa Sociedade. Um desenvolvimento deste trabalho foi aceito posteriormente, como tese de doutoramento, na Escola Paulista de Medicina, que deve ser apresentada até o ano que vem.

Além dos já nominados, quero também agradecer ao Carlos Gari Farias, Cláudio Eizirik, David E. Zimerman, Juarez Guedes Cruz, Maria Lucrecia Zavaschi, Mauro Gus, Paulo Machado e Romualdo Romanowski pelas valiosas ajudas em diferentes fases de minha carreira. Agradeço também à Ângela Plass, pessoa com quem tive o prazer de trabalhar por cinco anos, e Nilce Cardoso, responsável pelo atendimento psicopedagógico dos meus pacientes adolescentes. Junto com elas, escrevi o meu segundo livro, por uma encomenda do Ronald Pagnoncelli de Souza: O Uso de Drogas e a Adolescência. Interessante esta vida: o mesmo Ronaldo que ajudara o Vítor, meu filho, nos seus primeiros momentos de vida, agora me animou a “parir” novo livro.

Retomando a narrativa amorosa, no ano de 1992 comecei a namorar com uma gauchinha de Butiá, Ana Luísa, minha amada esposa. Nesses oito anos que juntos vivemos no sítio, Ana, Andrea, sua filha, hoje com dezessete anos e anchietana como o Vítor e eu, devo dizer, de público, como lhe sou grato pelo seu companheirismo, amor e dedicação. Nenhum de meus empreendimentos mais recentes teriam sido possíveis sem a sua compreensão e incentivo, isso sem falar na minha felicidade. Foi a Ana também que me ajudou, no ano passado, quando meu pai adoeceu e veio a falecer. Nela encontrei solidariedade e carinho para superar esse difícil momento. Apesar da sentida perda e ausência do meu pai no dia de hoje, sobram-me, no entanto, razões para alegria com a homenagem desta noite. Eu tenho agora cinqüenta anos, vinte e seis dos quais vividos por aqui. Se é verdade, por um lado, que ao vir para cá fiquei mais longe da minha família de origem e dos meus amigos paulistas, não é menos verdade, por outro, que Porto Alegre deu-me a Fernanda e o Vítor, deu-me a Ana e a Andrea. Em Porto Alegre, publiquei dois livros e, em Viamão, plantei todo um sítio. Como se nada disso fosse suficiente, Porto Alegre deu-me todos os amigos que estão presentes, mais os que não puderam vir. Como se ainda isso não fosse suficiente, Porto Alegre também me possibilitou que aqui tratasse todos os meus pacientes, aos quais sou grato pelo muito que me ensinaram e me ensinam a cada dia.

Não preciso muito mais para ser feliz e isso aconteceu também graças a ti, Porto Alegre, que, como para muitos, foi e continua sendo um alegre porto para mim.

Muito obrigado aos nobres Vereadores, principalmente à Ver.ª Sônia Santos, eminente Coordenadora da Comissão de Saúde desta Casa, pela felicidade que vivo no dia de hoje, a qual desejo compartilhar com a Neusa, o Paulo, o Cláudio; com a Ana, Fefê, Vítor e Andrea; com minha mãe e tia; com todos vocês, afinal. Muito obrigado amigos. Prometo-lhes que tentarei me tornar, cada vez mais, merecedor do Título de Cidadão Honorífico de Porto Alegre, nesta terra gaúcha que, como diz a letra da música: “o que mais floresce é o amor.” Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Para encerrar, agradecemos a presença de todos e os convidamos para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 20h49min.)

 

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